Lançado em 2007, "Mass Effect" foi um dos primeiros e mais importantes RPGs lançados para o Xbox 360 (algum tempo depois o PC ganhou sua edição), fruto da parceria com a Microsoft e a Bioware, veterana no gênero responsável por clássicos como "Baldur's Gate", "Neverwinter Nights" e "Star Wars: Knights of the Old Republic". O jogo futurista foi certeiro por misturar o tradicional modo de contar histórias da produtora, repleto de árvores de diálogos, com um esquema de combate que lembra jogos de tiro em 3a pessoa.
A Bioware logo foi comprada pela Electronic Arts, mas o compromisso com a plataforma da Microsoft se manteve e "Mass Effect 2" chega como lançamento exclusivo para o Xbox 360 nos consoles. O PC, novamente, se manteve alheio a disputas e agora ganha uma versão simultânea. Com quase um ano de diferença, o jogo chega ao PlayStation 3, com melhorias gráficas, todo o conteúdo extra lançado nesse intervalo e uma curiosa solução para suprir a ausência do primeiro jogo na plataforma da Sony.
Retomando a aventura
Os eventos do novo game continuam do ponto em que o primeiro parou. O comandante Shepard e sua equipe buscam focos de resistência dos alienígenas Geth depois de frustrar os planos de seu mentor, o vilão Saren, que desejava destruir a Citadel, uma espécie de estação espacial que reúne diplomatas de várias raças do universo. Os motivos de Saren eram ainda mais sinistros, mas antes que pudesse ir mais adiante em suas investigações, Shepard cai vítima de uma brutal emboscada.
Depois de várias surpresas que ocorrem logo no início desta segunda aventura, o herói se vê em uma situação complicada, associado ao grupo Cerberus, um movimento extremista que é acusado de ações terroristas, muito bem financiado por um sujeito misterioso conhecido apenas como Illusive Man. Sua missão de descobrir a verdade a respeito do ataque à Citadel continua, mas como suas novas alianças não são bem vistas, o soldado é obrigado a recomeçar do zero e montar uma nova equipe.
Na versão para PC e Xbox 360, era possível importar os dados salvos do primeiro game. Como o "Mass Effect" original não foi lançado para PlayStation 3, a EA optou por incluir uma história em quadrinhos interativa, na qual o jogador é apresentado ao enredo da primeira aventura e pode fazer seis escolhas decisivas, como o destino de alguns aliados e inimigos, que são levadas em conta no decorrer de "Mass Effect 2". Essas escolhas afetam a reputação de Shepard, o rumo de algumas conversas e o retorno de velhos conhecidos. É possível alterar algumas características de Shepard, em especial sua classe de especialização, em um recurso bem explicado pelo roteiro.
É uma solução eficiente para introduzir o jogador ao universo criado pela BioWare, mas não resolve a questão do envolvimento do jogador com o RPG. "Mass Effect 2" é o tipo de jogo que se importa mais com seus personagens do que com o rumo de sua história, assim, muitas revelações e surpresas perdem peso se o jogador não conhece algumas figuras importantes da mitologia.
Aliás, conhecer o histórico e objetivos de cada um dos membros do time de Shepard é o que torna o enredo tão absorvente e cativante, graças a um excelente trabalho de construção e sem jogar o primeiro "Mass Effect", muito desse envolvimento se perde. Ao encontrar um antigo aliado em uma das primeiras horas de jogo, quem experimentou o game anterior pode compartilhar da felicidade dos personagens com o reencontro. Quem passou apenas pela HQ interativa, se limita a pensar: "Ah, sim, vi essa personagem em um quadrinho lá atrás".
Simplificar para melhorar
A estrutura mecânica de "Mass Effect" sofreu grandes reformas para se tornar mais eficaz. Saem de cena as longas cenas em elevadores que serviam para mascarar o carregamento de cenários, a infinidade de itens inúteis e as longas jornadas com o tanque Mako por planetas desertos e enfadonhos.
"Mass Effect 2" simplifica muitos dos excessos do original para se focar no que interessa. As árvores de talentos, por exemplo, são menores e algumas habilidades limadas na realidade são adquiridas indiretamente ou mescladas a outras. As armas, armaduras a até a nave Normandy agora ganham mais poder de fogo graças a melhorias que podem ser compradas em lojas ou encontrados durante a ação. O sistema de munição também foi reformulado e agora, em vez de esquentarem, os armamentos contam com cartuchos de reposição que devem ser recolhidos no campo de batalha.
Para adquirir os materiais necessários no desenvolvimento de upgrades é preciso explorar planetas desconhecidos, mas o esquema mudou radicalmente. Além de finalmente poder controlar sua nave pelo mapa (e ter a preocupação de abastecê-la), não é mais preciso anotar quais planetas já foram visitados, pois o game assinala o nível de progresso na tela.
Sua nave exibe um sensor sobre o planeta escolhido e o jogador precisa ativar um scanner de superfície para varrer o lugar em busca de minérios raros. É um jeito bem mais divertido de captar recursos do que andar sem rumo com o desajeitado veículo do game anterior. Em outra mudança de mecânica importante, as ações de hackear computadores ou abrir cofres também mudaram e, de simples repetições de sequências de botões, se tornaram minigames de verdade, bem mais interessantes.
A apresentação de "Mass Effect 2" no PlayStation 3 mostra um salto de qualidade em relação ao jogo lançado para Xbox 360 e PC, que já era dos mais bonitos dessa geração. Os cenários são complexos e bem preenchidos. As animações dos personagens também estão mais ricas, principalmente as de Shepard, que acaba se tornando mais carismático. No entanto, o que mais importa é a melhoria no motor gráfico, que se mostra mais leve e exibe bem menos problemas na taxa de animação e carregamento de texturas. O motor da versão para PS3 é o mesmo que será utilizado em "Mass Effect 3".
O áudio do jogo também é sensacional. Primeiro vem a trilha sonora inspirada em clássicos filmes de ficção como "Blade Runner - O Caçador de Andróides", com forte uso de sintetizadores. As vozes também são de primeira linha, com a presença de atores como Martin Sheen (de "Apocalypse Now" e da série "The West Wing"), Carrie Ann-Moss ("Matrix"), Tricia Helfer (do seriado "Battlestar Galactica") e Michael Dorn (de "Jornada nas Estrelas: A Nova Geração").
No PlayStation 3, a extensa aventura espacial é ainda maior, pois o jogo é acompanhado por todo o conteúdo adicional lançado para as demais versões durante o ano de 2010. Desde armas e armaduras - como a curiosa "Blood Dragon Armor", vinda diretamente de "Dragon Age: Origins", também da BioWare - até novas missões, como a excelente "Lair of the Shadow Broker", o conteúdo extra é um bônus generoso para compensar a demora no lançamento de "Mass Effect 2" no console da Sony.
"Mass Effect 2" chega para corrigir os problemas do já clássico antecessor e apresentar o desenrolar da história do comandante Shepard e sua equipe, que já começa quente e repleta de reviravoltas chocantes. A equipe da Bioware ouviu todas as críticas e reconstruiu boa parte da mecânica para torná-la mais rápida e interessante, o que mantém a atenção do jogador no que interessa, que é a ótima mistura de diálogos complexos, personagens carismáticos e ação em terceira pessoa. A história em quadrinhos interativa até preenche a lacuna deixada pela ausência do "Mass Effect" original, mas não é capaz de criar laços entre o jogador e os vários personagens do universo criado com maestria pela BioWare. Ainda assim, "Mass Effect 2" é um dos melhores RPGs do PS3. Dramático, ágil e bem produzido, o game oferece uma experiência inesquecível para os fãs do gênero.