Instituições de ensino no país substituem as apostilas por tablets.
Professores e alunos também trocam livros por equipamento próprio.
A extensa lista de material escolar no início do ano letivo está sendo substituída por um único item. No lugar da mochila abarrotada de livros, cadernos e lápis, um computador portátil de menos de 1 kg reúne todas as necessidades do aluno e começa a fazer parte do ambiente escolar. É uma das mudanças proporcionadas pela revolução dos tablets, formato que promete substituir a maioria dos notebooks e desktops nos próximos anos.
“A minha ideia é usar o iPad para fazer anotações e substituir o caderno. Acho a minha letra muito feia, nem eu entendo, às vezes”, conta Samuel Silva, de 15 anos, que está no 2º ano do Ensino Médio do Colégio Batista Mineiro, em Belo Horizonte (MG). "Para as aulas de Física e Matemática, vou comprar um caderno tradicional, já que fica muito ruim fazer gráficos usando o dedo", disse Samuel, que comprou o iPad no dia do lançamento do tablet da Apple no Brasil, em dezembro.
“Em 2010, eu já usava o iPhone para a minha organização escolar. Não uso agenda há dois anos. Pretendo substituir os livros de literatura pelo iPad também”, conta o estudante, que está lendo “1984”, de George Orwell, no tablet. Agora, Samuel busca a autorização da coordenadora da escola para usar o equipamento em aula. "No primeiro dia, alguns professores não se importaram que eu estava usando o iPad. Já outros me perguntaram se eu tinha autorização".
Apostila em forma de tablet
A iniciativa de trocar os pesados livros pelo equipamento não nasce apenas dos estudantes. Instituições no Brasil estão buscando adaptar os seus padrões de ensino com as novas tecnologias. A partir de agosto, o grupo Estácio vai distribuir aos alunos do curso de Direito do Rio de Janeiro e do Espírito Santos tablets que rodam o sistema operacional Android. Cerca de 5,5 mil estudantes irão trocar as apostilas e o material didático pelo aparelho, que poderá ficar com o aluno depois que ele se formar.
“Estamos trocando um custo pelo outro. Trocaremos a despesa de impressão e despacho, pelo tablet. Por isso, não haverá aumento na mensalidade. A ideia é que isso chegue a todos os cursos. O Direito será um projeto-piloto”, explica Pedro Graça, diretor de mercado da Estácio.
Como o tablet será emprestado ao aluno, a instituição está negociando um seguro para o aparelho, caso ele seja roubado. “Se o aluno perder o tablet, ele terá que restituir a Estácio, mas o preço será o mesmo que usamos para comprar o aparelho”, disse Graça.
Em Campinas, todos os alunos do curso pré-vestibular do Colégio Integral serão presenteados com um iPad no início das aulas em março. A instituição está trocando as apostilas do curso pelo tablet da Apple. “No final, os alunos poderão ficar com o aparelho para usá-lo na faculdade”, conta Ricardo Falco, diretor do Colégio Integral na unidade de Cambuí.
“O tablet facilita o acesso à informação e vai tornar as aulas mais dinâmicas. Todo o material didático, livros, jornais e revistas poderão ser encontrados no tablet”, completa Falco. As apostilas do cursinho serão disponibilizadas aos alunos em formato PDF. "Vamos restringir o acesso a rede sociais e a sites que não estejam relacionados às aulas. Por isso, optamos pela versão apenas com conexão wi-fi".
No caso do Colégio Integral, a mensalidade do curso vai aumentar de R$ 1 mil mensais para R$ 1,5 mil. Mas Falco explica que o iPad não foi a única razão para o aumento. “Estamos lançando um novo formato de curso pré-vestibular, com atendimento mais personalizado e turmas menores”.
Conteúdo adaptado
“O custo do equipamento, a conexão de rede e a formação do professor são os três principais desafios do projeto digital como um todo”, explica Tadeu Terra, diretor-geral de material digital da Pearson, que levará, em parceria com o SEB (Sistema Educacional Brasileiro), 15 mil tablets a adolescentes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio de 18 escolas do Brasil a partir de abril. “Desde 2009, desenvolvemos um projeto que possa atender essas três prioridades”, completou. Os colégios beneficiados com os tablets reúnem os sistemas COC, Pueri Domus e Dom Bosco.
Segundo Tadeu, não adianta levar o tablet ao aluno se todas as funções do equipamento não são aproveitadas. “No projeto da Pearson, tentamos integrar toda a parte digital, como vídeos, infográficos, interatividade, animações e exercícios colaborativos, para que o aluno use o computador de forma plena, e não apenas lendo em PDF”.
O material já era utilizado por alunos no notebook e, a partir de abril, chegará aos estudantes por meio do tablet. “Esse sistema visa potencializar as funções do equipamento em sala de aula”. Em 2012, a Pearson planeja oferecer os tablets para todas as séries dos colégios parceiros.
“As escolas terem tablet é um processo irreversível, pois ele é a mídia do futuro”, disse Chaim Zaher, diretor-presidente do SEB. "Em três anos, em torno de 65 mil alunos do SEB terão o equipamento", prevê. Em 2010, Zaher viajou à China para avaliar o melhor aparelho a ser adquirido pelos colégios. Alunos do ensino à distância da Universidade do SEB também receberão os tablets em abril para ajudar nos estudos em casa.
Professor também usa
Se o tablet ainda não chegou às instituições, professores levam o próprio aparelho para modernizar as explicações em aula. É o caso do professor Carlos Alberto Goebel Pegolo, da Universidade São Judas Tadeu. “Eu fiz algumas experiências com o meu iPad durante 2010. O tablet oferece uma maior mobilidade ao professor em aula”, conta.
Pegolo usou o aparelho durante as aulas no laboratório de automação. “Quando eu passava de mesa em mesa para ver as experiências dos alunos, o iPad me ajudava para complementar e corrigir os trabalhos ao puxar um vídeo da internet ou mostrar uma figura. Em vez de usar um caderno para rabiscar, eu usava o tablet”, explica.
Antes de chegar ao Brasil
Em 2010, um brasileiro experimentou ter a apostila disponibilizada em forma de iPad em uma universidade na Suíça. Em junho, Alexandre Franca Lima, executivo da Petrobras, participou de um curso de uma semana que, tradicionalmente, oferecia uma pasta enorme com todo o material em papel.
“Minha mulher participou do mesmo curso em 2008 e ela tinha que carregar uma apostila enorme, que acumulava o conteúdo de toda a semana”, conta Alexandre. A turma de cerca de 400 pessoas fez o primeiro teste com o iPad no ano passado. “Eu achei fantástico. Eu nunca tinha usado um e, para mim, foi facílimo”, conta.
“Além de eliminar o peso das apostilas, o campus da universidade tinha quatro prédios e cada aula era em uma sala diferente. A gente usava o Google Maps do tablet para buscar onde seria o próximo seminário. E, enquanto o professor nos mostrava o conteúdo no datashow, podíamos acessá-lo pelo iPad”. Como as turmas do curso não eram fixas, Alexandre também conta que o iPad facilitou a comunicação entre os alunos, que vinham de diversas partes do mundo.
Aplicativos feitos para a aula
A loja de aplicativos da Apple disponibiliza ferramentas desenvolvidas especialmente para a sala de aula, como o “
The Elements", uma tabela periódica animada. “Esse é um dos aplicativos que planejo usar para a aula de Química”, conta Samuel. O app pode ser comprado por US$ 14 e possui versão apenas em inglês.
Outra opção é o “
Humman Body Encyclopedia D”, que custa US$ 1. O aplicativo ajuda os alunos a memorizar as partes do corpo humano e o nome dos órgãos. Como está disponível apenas em inglês, o app também pode ser usado para praticar o idioma.
O “
iStudiez Pro”, aplicativo para organizar tarefas e horários das aulas, tem versão em português e é vendido por US$ 3. E o “
Flashcards Deluxe” auxilia na criação de cartões de estudo que ajudam na memorização de aulas. Também só está disponível em inglês e custa US$ 4.
A loja de aplicativos para o sistema operacional do Google, Android, que roda no Galaxy Tab, da Samsung, também possui ferramentas para a educação. Confira no site
Android Market.